sexta-feira, 22 de dezembro de 2023

Oxímoro

Eu tenho orgulho de quem eu me tornei, de tudo que superei, das dores, das adversidades. Eu achei em mim a minha própria fortaleza. Não ousaria dizer que admiro a natureza, a política e a vida com a mesma intensidade de antes. Apenas como oxímoro.

Ninguém me contemplaria mais do que eu mesmo. Fiz de mim todas as coisas que amo e admiro, até mesmo as que odeio.

E tudo que eu deixei pra trás? E todos os sacrifícios que eu fiz? E a vida que eu optei por não ter? Sim, e com ela todas as pessoas que ficaram no passado. Não as desejo nada, elas terão a sua própria sorte.

Se eu procurasse pelo Breno de 10 anos atrás eu não o encontraria. Ele se foi. Há muito tempo. Eu enterrei ele há muitos anos. Me assusta que não tenha restado muito dele. Me consola de que este seja o movimento natural da vida.

segunda-feira, 10 de julho de 2023

oxxo

Outro dia, sábado a tarde, acordei tarde almocei, me deu vontade de comer um chocolate de sobremesa. Não tinha em casa pq eu não compro porcaria pra comer dentro de casa. Quando tenho vontade de comer porcaria compro na rua, como e não trago pra ksa, justamente pra ser pouco. É minha política anti-porcaria na alimentação. Uma estratégia pra me enganar e não alimentar a minha compulsão. Imagina comprar um bolo e trazer pra ksa? Não dá, moro sozinho e tenho ansiedade, ia comer tudo em segundos.

Inclusive a última porcaria que eu comi dentro de casa foi meu ex.

Enfim, saí pra comprar chocolate num mercado aqui pertinho de ksa, chegando lá um atendente q eu nunca tinha visto, super fofo, alto, magro, branco, cabelo curto enrolado, sorriso lindo, olhos super meigos. Perguntei onde ficavam os chocolates, ele me levou ao corredor, ficou perguntado qual eu gostava, disse que gostava muito, que comia demais.

Agora observe, fino leitor, eu queria um chocolate preto e pequeno e me apareceu esse delicioso chocolate branco alto na minha frente.

Bem, voltando... aí eu escolhi um bem pequeno e ele puxando papo "ah, esse aqui também é gostoso, esse não sei o que, não sei o que lá" como se eu estivesse prestando atenção no que ele falava. Eu já tenho TDAH de natureza, ainda me vem aquela boquinha rosada falando de maneira graciosa, não deu, meu pau ficou logo duro, ainda bem que eu tava com uma roupa super folgada. Pense numa cachorra doida de rodoviária.

Nessa brincadeira eu comprei SETENTA E DOIS REAIS de chocolate. Foi burrice, eu sei. Mas eu não consegui dizer não pras indicações dele. Ele era doce demais, e o coração da mãe é grande, a despeito do crédito. Não quis estender muito a conversa pq afinal ele estava trabalhando e não ia dar pra fazer roteiro de filme pornô: tirar a roupa e se agarrar ali mesmo.

Sorri, agradeci, vim embora.

Cheguei em casa com uma tonelada de chocolate que eu carregava numa sacola tão pesada que poderia me dar artrose.

Chocolate alemão, suíço, estadunidense e porcaria brasileira. Eu adoro chocolate, mas pelo tanto que eu comprei acabei quase criando trauma. Já tava tendo pesadelo com chocolate. Fora a intolerância a lactose latente, só para variar. E eu não ia perguntar pro menino QUAL chocolate ali era zero lactose, né? Que tipo de merda de assunto eu ia puxar no meio do flerte?

Todo dia quando vou malhar passo obrigatoriamente na frente do pequeno mercado pq é caminho, olho discretamente e não vejo ele no caixa. Hoje mais cedo saí pra comprar um energético, o mercado estava fechado, com as luzes acessas lá dentro e um aviso no vidro "já voltamos". Não tive paciência pra esperar, fui em outro mais a frente. Acabei demorando pq decidi comprar outras coisas que ia precisar durante a semana. Na volta, o mercado do menino gatinho estava aberto e ele no caixa.

Eu, como uma boa vabagunda com muita saliva fui em casa, deixei as compras e voltei pra comprar o que? Pois é, chocolate. Acresça-se o fato de que eu ainda tenho chocolate para passar três longos invernos glaciais. Entrei no mercado, fui no freezer, peguei umas coisas, voltei para a parte de salgados e saquei rápido que se eu pedisse uma coxinha ele ia ter que esquentar e daria tempo pra puxar papo. E só pq o destino as vezes resolve colaborar, pedi um salgado e um pão de queijo, ambos não poderiam ser aquecidos juntos, pq um é frito, o outro assado, me explicou o gatinho, então demorou mais ainda para terminar o atendimento. E tome agulhada na jugular. Aquela conversinha mole e despretensiosa que todo homem já nasce autodidata: famoso migué.

Pedi. Sou tímido. Uma vagabunda tímida, tem condições? No começo tinha ficado calado esperando, ele colocou o salgado pra esquentar e já foi puxando papo (oh thank God). Conversamos, eu disse que nunca tinha visto ele a noite, só durante o dia, ele me disse os horários que trabalhava, atendeu outro cliente.

Sorriu, perguntou se eu ia levar chocolate (mandei-me a todos os diabos), disse que sim. Uma puta velha maliciosa que nem eu já lancei "qual chocolate vc acha mais gostoso?" Ele apontou com aquele sorriso super calmo e fofo, comprei dois, dessa vez fui mais ligeiro, ele perguntou "só? Vc não gosta desse chocolate?" Desconversei, falei que precisava manter a dieta.

O senhor que estava sendo atendido por ele foi embora, justamente nessa hora o micro-ondas apita, ele me entrega o salgado, ainda puxando assunto, eu falei que precisava ir, tirei um chocolate da sacola (exatamente o q ele tinha escolhido) entreguei pra ele e só disse "toma, pra vc". Ele ficou sorrindo surpreso, agradeceu, olhando pro chocolate como se não acreditasse. Dei boa noite e saí andando.

Moral da história: agora eu tenho um novo crush e estou a caminho de adquirir diabetes.

domingo, 23 de abril de 2023

f O r e V E R

É bom vc ir percebendo mesmo q não tem mais espaço na minha vida. Não adianta mandar msg de madrugada, ligar em horário comercial ou tocar a campainha da minha casa num domingo. Não adianta.

domingo, 9 de abril de 2023

depois do show do Chico. reedit.

E eu não amo mais meus pais
Porque eles condicionaram o amor deles
A eu ser uma outra pessoa que não eu
Que tipo de amor estabelece 
Quem você vai ser

Por muitos anos eu me enganei com essa afirmação 
Que pra ser amado tinha que ser igual ao hipócrita do meu irmão gêmeo 

E a minha família me fez sentir errado
Por apenas ser quem eu sou
E eu senti tristeza e raiva
Por não poder demonstrar quem eu sou

Porque eu nasci assim 
Nada vai mudar a minha essência 
Nem suas regras, nem sua violência 

Desde quando eu lembro de ter consciência da minha existência eu lembro de ser assim 
De ser tratado o tempo inteiro de maneira desrespeitosa

Quando você é uma criança gay num ambiente hostil
Você aprende cedo que sua existência não é bem-vinda
E com isso, você passa a ser hipervigilante

Primeiro você se sente errado
E depois sente raiva das outras pessoas por te fazerem sentir errado
Por fazerem você sentir que não é apreciado

E fui dormir muitas vezes chorando
Implorando a Deus pra me mudar
Pra que Ele me fizesse ser como os outros 
Apenas para mendigar amor e afeto

Não respeitaram os meus limites 
Me traumatizaram de todas as formas possíveis 
Com palavras, com gestos, com olhares
Era repreendido de todas as formas 

E ninguém nunca se desculpou
Pelo menos não de maneira genuína
Ninguém nunca se solidarizou com a minha dor

Eu aprendi muito cedo a viver num estado eterno de alerta
Não podia me divertir como qualquer outra criança 
Eu era muito chorão, muito afeminado, muito sensível 
Não me ensinaram a entender minhas emoções 

Daí eu me tornei essa pessoa fechada
Que leva as coisas muito a sério, muito rígidas
Pouco flexível 

Eu lembro de cada grito, de cada palavra maldosa, maliciosa
Eu lembro de cada grosseria
De ser mal interpretado, incompreendido
Eu lembro de sentir que eu não cabia em espaço algum
Eu lembro de ser desajustado, de ser não recomendado a sociedade 

Eu lembro das surras, dos castigos desmedidos, de me fazerem ficar sozinho e em silêncio pra refletir em como saindo dali
Eu tivesse que aceitar e fazer exatamente o que me mandavam fazer
Eu lembro dos tapas, socos, dos hematomas tão roxos que os meus colegas de sala conseguiam ver quando batia o sol na farda branca do colégio 

Eu lembro da negligência 
De todas as formas
Afetiva, financeira, 
De ter que fazer a minha própria matrícula na escola 
De não ter o que comer
Eu lembro da fome (e isso me assombra até hoje)

E hoje eu tô seguindo meu caminho 
Sozinho
E eu tô progredindo 
E eu tô fazendo sucesso

Meus amigos sabem mais sobre mim
Do que o meu sangue
Não é normal você não poder ser como você é

E talvez a minha família jamais reconheça que errou
E erra
E tá errada
E continua errando

E não sobrou nenhuma relação
Como se as relações com a minha família 
Não tivessem se mantido unicamente porque eu fingi esses anos todos, trinta e dois, ser exatamente o que eles queriam que eu fosse

E agora eu não tolero mais
Mais nada que me avilte
Que me transpassa
Que me faça sentir vilipendiado 

Eu não falo com meus pais
Eu não falo com cinco dos meus seis irmãos 
Eu não sei como estão meus sobrinhos
Não conheço minhas cunhadas
Das dezenas de primos, só me sobrou uma
Dos tios, apenas duas pobres almas de quem eu ainda me apiedo 

A família inteira bloqueada
Simplesmente porque me negam o que não é virtude, e sim obrigação: respeito

E eu nem sou um ladrão 
Um criminoso
Uma pessoa ruim que faz mal aos outros
Eu não fiz nada de errado a ninguém 
Sou condenado a viver exilado por amar

E os danos foram tão profundos que eu tenho depressão desde os dezessete
Nem aproveitei direito a minha adolescência 
Estava preocupado demais tentando sobreviver

E ninguém percebeu que eu sou TDAH
Eu era sempre o preguiçoso
Vagabundo 
Não ia chegar a lugar nenhum 

E do TDAH se desenvolveu uma série de outros transtornos, a saber:
Depressão;
Ansiedade;
Pânico;
Agorafobia;
Estresse pós Traumático
E outros nomes complicados que o psicólogo tenta me fazer entender

Mas a minha resiliência é grande 
E Deus é maior
A prova disso é que eu estou aqui em pé
Cansado
Mas de pé

E eu me formei
Eu tenho uma carreira sólida 
E eu tenho um futuro bonito pela frente
Basta mais um pouquinho dessa resiliência 
E dos quatro comprimidos que eu tomo diariamente 

Eu só preciso de mais um tempo 
Até essas lágrimas secarem

Até lá eu vou colocar minha cabeça no lugar
Eu vou me cuidar 
Vou me amar
E vou amar todo mundo que me quer bem 

Porque se o dia do perdão nunca chegar
Eu vou estar firme e estabelecido
E vou me olhar com carinho e compaixão 
Sabendo que na medida eu fiz tudo pra me amar

Eu não amo mais os meus pais
E não me dói reconhecer isso
Nada é capaz de fazer doer mais
Do que já doeu antes

depois do show do Chico

E eu não amo mais meus pais
Porque eles condicionaram o amor deles
A eu ser uma outra pessoa que não eu
Que tipo de amor estabelece 
Quem você vai ser

Por muitos anos eu me enganei com essa afirmação 
Que pra ser amado tinha que ser igual o cagão do meu irmão 

E a minha família me fez sentir errado
Por apenas ser quem eu sou
E eu senti tristeza e raiva
Por não poder demonstrar quem eu sou

Porque eu nasci assim 
Nada vai mudar a minha essência 
Nem suas regras, nem sua violência 

E hoje eu tô seguindo meu caminho 
Sozinho
E eu tô progredindo 
E eu tô fazendo sucesso

Meus amigos sabem mais sobre mim
Do que o meu sangue
Não é normal você não poder ser como se quer ser

E talvez a minha família jamais reconheça que errou
E erra
E tá errada
E continua errando

Até lá eu vou colocar minha cabeça no lugar
Eu vou me cuidar 
Vou me amar
E vou amar quem me quer bem 

Porque se esse dia nunca chegar
Eu vou estar firme e estabelecido
E vou me olhar com carinho e compaixão 
Sabendo que na medida eu fiz tudo pra me amar

Ps: nem corrigi, ainda não consegui reler. 

quarta-feira, 15 de março de 2023

Cupom

Tava excluindo umas fotos do Instagram, parei em uma foto de 10 anos atrás. Uma barca de sushi, só isso. Me perguntei qual era aquela ocasião. Lembrei que foi o dia que fiz a reserva em um japa pra levar o garoto por quem eu era apaixonado. Era um cupom, já tava pago, não reembolsável. Eu ganhava muito pouco naquela época, trezentos e sessenta reais ao mês. O que significa que comprar um cupom de sushi era um grande evento para as minhas possibilidades.

Marquei de encontrar com ele numa praça. Esperei por quase duas horas ali sentado, liguei, mandei mensagem, ele não foi ao meu encontro. Saí dali e fui comer o sushi sozinho. Fiquei muito sentido, quase chorei ali mesmo. Engoli. O sushi e o choro. Porque era tristeza, mas também vergonha. O restaurante estava vazio, lembro de ser o único cliente sendo atendido naquele momento. Mesmo assim sentia que se caísse uma lágrima estaria admitindo o dano que me tinha acometido, e, com isso, imediatamente todos os garçons saberiam exatamente o que tinha acontecido. Alguma neurose que não fazia sentido algum.

Esse menino ainda me fez de gato e sapato algumas vezes. Eu inconscientemente permiti. Estava cego, não conseguia enxergar o óbvio. Que pra ele eu era um passatempo, a última opção do rolê. Se não restasse nada minimamente interessante a fazer, ele aceitava sair comigo. Veja, fino leitor, eu não valia um cupom de desconto. Ainda que eu me comportasse como um príncipe com ele. Fazia de tudo para agradar. O problema não estava em mim, não tinha nada que eu pudesse fazer que alcançasse o padrão estabelecido pela cabecinha imatura daquele anjo, para não utilizar o arcabouço de adjetivos negativos que eu elenquei para ele. 

Vire e mexe e a gente se esbarra por aí nos rolês, ele vem falar comigo, eu sou sempre frio, desinteressante, não prolongo o assunto. A regra é simples: estará sempre tudo bem e nunca terei novidades. Ano passado, por exemplo, nos esbarramos na hora de sair do avião. Só por sacanagem do destino, clichê ou simplesmente porque a cidade é pequena mesmo e tudo converge. Com milhares de voos circulando por minuto e nós estávamos há duas fileiras de distância. Me levantei, peguei minha bagagem, estava de máscara, óculos de sol e boné. Ele me reconheceu, arregalou os olhos, tentou vir pegar na minha mão, tinham pessoas na frente, não tinha como. Por um segundo eu quase não reconheci ele. Não exatamente por ser vingativo e rancoroso - o que sabidamente o leitor já notou que eu sou. Não é também como se fosse raro a gente se esbarrar por aí. O circuito cultura dessa cidade é bem resumido e nós temos gostos muito parecidos. Invariavelmente nos esbarramos. Não por esforço meu, como ocorria no passado, apenas circunstancialmente. 

Voltando para dez anos atrás. Enfim, alguns meses depois do episódio do cupom, e algumas centenas de reais gastos, ele finalmente admitiu que me via apenas como amigo. Não passava disso. E eu era isso. E tinha sobrado isso: o prêmio de consolação. Mister friendzone do ano. Eu que não conseguia me desligar dele facilmente me contentei com a amizade, afinal, ele adorava o que eu fazia por ele, não me adorava, adorava o que eu fazia para ele, que tenha ênfase. Nos anos seguintes nós até saímos juntos, nos beijamos, transamos, e não passou disso, como nunca passaria de fato. E olhe que eu ainda fui uns três anos louco por ele. E a loucura acabou do jeito que começou, porque sempre acaba.

Hoje eu posto foto no rolê, ele reage, comenta e eu visualizo. Não tenho vontade de responder. É apenas a nossa estranha forma de manter a conexão e dizer que os dias que passamos juntos valeu para formalizar alguma coisa próxima do não esquecimento.

E eu sou assim com todos atualmente, virou regra. Não para descontar em alguém que não tem nada a ver com as marcas que tantos outros me deixaram. Talvez o meu terapeuta consiga avançar nesse tema com o tempo. Não é prioridade pra mim, mas eventualmente pode me trazer alguma qualidade nas relações.

E eu sigo sem energia. E eu era uma explosão de sentimentos bons. Me drenaram.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2023

Corta essa

Ei menino
Para com esse papo
De (onde tu mora?)
De (curte o que?)
Não tá vendo que eu só quero te comer 

Vai ter a sua melhor foda
Vou te levar ao céu 
Vou elogiar tua boca
Vou dizer que não me importo com tua aparência 
Vou te oferecer um lanchinho gostoso
E depois eu vou te levar pro inferno 

Você não tá entendendo 
Eu vou ser seu maior inimigo (corta essa)
Eu sou ser o seu maior gatilho 
Eu vou ser o seu maior trauma
Vai juntando o seu dinheirinho pra terapia (haha)

Tão bonitinho, mas tão carente
Tão bonito, mas tão fácil de se entregar 
Tu é canceriano é? (Ih se fodeu)
Tão bonitinho e me deu o melhor chá

Eu não brinquei com você
Você que não passa de um brinquedo
Vai me dizendo no primeiro encontro
Que eu sou a sua vida
Me dá duas semanas que eu acabo
Com a sua